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Saúde Bucal e Longevidade: A relação das doenças crônicas sistêmicas

Publicado em 8 de novembro de 2022

Os problemas e declínios decorrentes do envelhecimento natural (senescência) e dos eventos patológicos que acometem as estruturas da boca ao longo do tempo se conectam e inter-relacionam com outros desfechos ou patologias comuns que afetam a saúde sistêmica dos indivíduos mais velhos.

Entre os problemas crônicos sistêmicos mais prevalentes que impactam diretamente a saúde bucal durante o envelhecimento podemos destacar: diabetes; hipertensão arterial; doenças cardiovasculares,  respiratórias e autoimunes; disfunções ou problemas endócrinos, renais e hepáticos; doença de Alzheimer e doença de Parkinson (problemas neurológicos); problemas oncológicos; afora isso, os problemas com a fobia e/ou ansiedade que dificultam a adesão e compreensão da necessidade dos tratamentos propostos para sua resolução.

Para fazer frente a este complexo e dinâmico desafio da jornada do envelhecimento, a Odontogeriatria é uma especialidade que reforça o time da Odontologia no apoio e atenção à saúde de pacientes idosos, sejam eles saudáveis ou com alterações sistêmicas.  Um universo de profissionais focados em estudar e compreender as complexidades das possíveis alterações sistêmicas causadas principalmente pelo crescente número de doenças crônicas que afetam esta população, lançando mão da colaboração interdisciplinar e de estratégias multidisciplinares que visam atender de forma individualizada e integral a pessoa idosa e promover o bem-estar biopsicossocial.

Abaixo relacionamos alguns dados que contextualizam os números brasileiros das doenças crônicas e degenerativas mais prevalentes tanto da saúde bucal quanto da saúde sistêmica:

  • Segundo o IBGE, em 2019, 52% dos adultos foram afetados por pelo menos uma doença crônica;
  • Fiocruz – 2018 – 30% dos idosos brasileiros apresentam duas ou mais doenças crônicas;
  • A prevalência de doença periodontal “moderada a grave” em adultos no Brasil é de 15%;
  • SOBRAPE - Estima-se que em torno de 50% da população tenha gengivite, e que, destas, mais de 80% desconheçam o problema;
  • INCOR, 2019, 45% das doenças cardíacas tem origem na cavidade bucal;
  • SBEM - No Brasil, estima-se que a prevalência de diabetes seja de 10,5% da população entre 20 e 79 anos;
  • INCA, 2020/22 - estima-se um número de 625 mil novos casos de câncer/ano no Brasil;
  • INCA – o câncer bucal é o 5º mais prevalente no Brasil, com aproximadamente 15 mil novos casos/ano;
  • REV BRAS EPIDEMIOLOGIA – 25% dos octogenários têm algum tipo de demência;
  • IOF - Em relação a Osteoporose, o número de pessoas afetadas é superior a 10 milhões no Brasil;
  • Estudos estimam entre 15% e 20% dos pacientes brasileiros tem “medo de dentista” – odontofobia.

Atualmente 1 milhão de brasileiros sofre de demência (principalmente o Alzheimer). Estima-se que em 30 anos esse número irá quadruplicar.

Fique atento!!!
Saúde começa pela boca!!!

Neste esforço de prevenção e detecção precoce de problemas de saúde devemos contar com consultas periódicas ao dentista porque alterações na língua, na gengiva e nos dentes podem indicar os primeiros sinais para diagnosticar agravos que acometem o corpo inteiro!!

Dica importante: Observe sinais em todo corpo. Se algum problema de saúde do corpo repercute na boca ou vice-versa a atenção deve ser redobrada!!

Esse é o momento para entendermos melhor o que é Bi direcionalidade de doenças.

Resumidamente, é um adjetivo utilizado para definir o mecanismo de ação “em duas direções” - eixo de comunicação - de duas ou mais doenças, especialmente as crônicas.

Portanto, é necessário e cada vez mais comum a CONTRIBUIÇÃO ENTRE PROFISSIONAIS de diferentes áreas da saúde para fazer frente ao diagnóstico e tratamento de pessoas idosas.

A importância da Saúde Bucal

Para a Odontologia, a contribuição e interação entre profissionais apoia a elaboração de estratégias de tratamento e ajuda a responder perguntas ou dúvidas muito comuns no dia a dia da rotina de atendimentos. Por exemplo: Está correto não tratar uma infecção oral esperando a estabilidade de um outro quadro de doença sistêmica? Qual(is) o(s) critério(s) médico(s) de estabilidade? Há algum consenso ou padronização? O tratamento odontológico pode desestabilizar um quadro sistêmico? Afinal, o que podemos aplicar na prática? Pelos mais recentes estudos e consensos, a resposta está em restabelecer a saúde bucal sem procrastinação e melhorar indicadores de saúde sistêmica a partir da boca. O que os estudos comprovam é que o estado inflamatório da cavidade oral tem um impacto na saúde sistêmica do indivíduo, assim como, doenças crônicas têm repercussões na boca. Ou seja, como num efeito de “vai e vem” diferentes doenças crônicas são impactadas pela interrelação bidirecional dos mecanismos de ação.

Portanto, o manejo odontológico em pacientes idosos, com diversas comorbidades e alterações sistêmicas precisa do respeito criterioso de uma boa avaliação, incluindo exames de sangue, checagem da gravidade das patologias presentes, da interação e contribuição de outros profissionais médicos, de possíveis interações medicamentosas e do potencial nível de ansiedade ou medo do paciente.

A partir desta análise cuidadosa, os cuidados com os tratamentos da cavidade oral recaem:

  • na avaliação da ansiedade ou medo do dentista,
  • na condição clínica atual do paciente (risco de instabilidade),
  • no tipo de procedimento a ser realizado (nível de invasividade),
  • na avaliação física do paciente em relação ao tempo do procedimento,
  • no tipo de anestésico,
  • na necessidade ou não de profilaxia antibiótica,
  • no uso ou não do recurso de sedação local leve,
  • no monitoramento transoperatório,
  • em prescrições medicamentosas adequadas ao caso,
  • no consentimento de familiar responsável (idoso incapaz) pela proposta de plano de tratamento,
  • na solicitação de acompanhante para liberação pós-procedimento, e
  • na avaliação de potenciais riscos de emergências médicas ao longo do tratamento.

Como que a saúde bucal pode ajudar a prevenir e minimizar efeitos deletérios de doenças sistêmicas?

As interfaces da boca, intestino e a pele são crucialmente importantes para a manutenção do equilíbrio homeostático do corpo desempenhando um papel importantíssimo de controle do processo saúde/doença através da proteção da integridade dos tecidos e da invasão de patógenos para o meio interno. Portanto, as doenças de origem bucal têm a partir do rompimento da barreira de defesa imunológica, um potencial impacto de causar em diferentes locais do corpo um efeito inflamatório em cascata gerando um desequilíbrio da homeostase e levando importantes efeitos deletérios e profundas modificações na saúde de diferentes órgãos e tecidos.

A interação dos mecanismos fisiopatológicos como a bacteremia e a inflamação associada às sequelas, que provocam uma inflamação sistêmica, interfere em mediadores inflamatórios tanto no local da lesão quanto à distância nos demais órgãos. Daí a representação das múltiplas vias do eixo de comunicação entre cavidade bucal, circulação e órgãos distais que é potencialmente negativo devido à sua modulação inflamatória de um lado a outro do corpo.

Leia mais sobre a importância dos cuidados na Saúde Bucal da população idosa
O cuidado com a saúde bucal vai muito além da estética, especialmente entre os idosos. Saiba mais sobre isso no nosso primeiro artigo dedicado ao tema.
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Um exemplo com muitas evidências científicas: a doença periodontal (principalmente a periodontite) produz toxinas e mediadores inflamatórios que invadem a corrente sanguínea provocando um estado inflamatório sistêmico que, entre outros efeitos, influencia a modulação do sistema imune, altera a glicemia sanguínea e o quadro do Diabetes, e provoca alterações no sistema cardiovascular. Na contramão, os efeitos deletérios destas alterações sistêmicas têm potencial para agravar a resposta inflamatória da doença periodontal.

Em síntese, doenças e problemas bucais podem afetar a boca de pessoas de todas as idades, mas existem algumas condições que ocorrem com mais frequência em idosos. A partir disso, compilamos um mapeamento das principais doenças e agravos mais prevalentes na saúde bucal que possam ter relação de bi direcionalidade com outras doenças sistêmicas:

  • Gengivite / Periodontite – São as doenças periodontais mais comuns. São originadas pelo acúmulo de placa bacteriana e/ou a presença de tártaro junto do dente e gengiva. Desencadeiam uma inflamação por causa da proliferação excessiva de bactérias. Nos casos mais severos – periodontite -, a invasão bacteriana também ocorre no osso causando reabsorção.
  • Cárie – Doença de origem bacteriana que tem por grande fator predisponente a questão comportamental e imunológica.  Por isso são mais prevalentes em crianças, adolescentes e em idosos. Na terceira idade costuma ser bastante recorrente, especialmente nas chamadas cáries radiculares, podendo levar à perda do elemento dentário.
  • Abcesso dentário – Infecção bacteriana que tem origem no interior de dentes sem vitalidade pulpar (necrosados). Tal processo ocorre por via direta (via canal) ou por infecção cruzada de origem periodontal (periodontite). Geralmente são resultados de um longo período de desenvolvimento (por vezes por descaso ou negligência), onde o processo de defesa do organismo briga com os agentes patogênicos gerando um contencioso infamatório chamado de “pus”, potencialmente perigoso no local e na circulação pela bacteremia sistêmica que pode atingir outros órgãos.
  • Hipossalivação ou xerostomia - Distúrbio da redução natural (ou medicamentosa) do fluxo salivar. Não é necessariamente uma doença, mas um distúrbio decorrente do envelhecimento natural das glândulas salivares ou de efeitos adversos do uso continuado de medicamentos. A boca seca interfere na saúde bucal do idoso prejudicando a hidratação da mucosa e na proteção imunoprotetora contra doenças. Funcionalmente prejudica a fixação e estabilidade das próteses, na remineralização dos dentes e no processo de deglutição dos alimentos.
  • Candidíase - Essa doença é provocada por algum desequilíbrio na imunoproteção da boca. Diabetes e outras doenças que comprometem o sistema imunológico, hipossalivação, higienização inadequada da boca ou próteses podem desencadear a proliferação excessiva do fungo Cândida Albicans (encontrado naturalmente na boca), causando sintomas como feridas, dor, ardência, vermelhidão e formação de placas esbranquiçadas.
  • Leucoplasia - Doença bucal que se caracteriza pela formação de manchas com a tonalidade branca ou acinzentada em diferentes partes da boca, principalmente no interior das bochechas, nas gengivas e na língua. É uma lesão potencialmente maligna, por isso precisa de monitoramento constante. Alterações imunológicas, tabagismo, alcoolismo, próteses mal ajustadas, dentes em atrito com os tecidos da mucosa são fatores potencialmente desencadeadores de sua formação. Atenção para não confundir com a hiperceratose causada pelos mesmos traumas. Podem regredir sozinhas quando da eliminação do fator causal.
  • Câncer bucal – 5º tipo de câncer mais comum no Brasil, é mais comum em indivíduos acima dos 60 anos. Sua manifestação mais prevalente é em lábios, língua, gengiva, ossos e outras estruturas da cavidade bucal. Tem como fatores predisponentes a genética, exposição ao sol, ao tabagismo, álcool e o atrito de próteses mal adaptadas.
  • Doenças Autoimunes – Doença que se caracteriza pela própria reação do sistema imune às estruturas do corpo. Entre os fatores causais: a genética, falhas na tolerância de receptores, alterações de moduladores, dieta, e a imunosenescência ligada ao envelhecimento. As de maior repercussão na cavidade bucal são a doença de Crohn, o lúpus eritematoso sistêmico ou cutâneo, a síndrome de Sjögren, e a Psoríase.
  • Sífilis – Doença de origem bacteriana e comportamental que tem apresentado um novo surto de ocorrência no Brasil. É uma doença sexualmente transmitida que tem como primeiro sintoma na gengiva que demora a cicatrizar. Num segundo estágio, elas podem evoluir com o surgimento múltiplas manchas brancas com aparência verrucosa.
  • Falta de dentes – Perda dos dentes não é resultado do envelhecimento. Embora não seja uma doença, a extração do órgão dentário é resultado de múltiplas e desastrosas ocorrências que tiveram insucesso no seu tratamento (ou na falta dele). Estão entre as desordens mais comuns e de maior impacto na qualidade de vida especialmente em idosos. São fator predisponente para dores e agravos articulares na articulação temporomandibular.
  • Próteses mal indicadas ou mal adaptadas – Outra desordem muito comum no Brasil, especialmente com o avanço da idade. A falta ou a precarização das reabilitações são fatores causadores de lesões ulcerativas, hiperplásicas e leucoplasias. A deficiência da higienização pode gerar manifestações bucais com fungos e bactérias (candidíase e estomatites). 
  • Outras manifestações bucais em línguas e bochechas como halitose, saburra, queimação, aftas e úlceras – de origem multicausal.
  • Outras doenças que se manifestam pela boca e que podem ser rastreadas por cirurgiões dentistas: Leucemia, Anemia, Cirrose hepática e infecção pelo vírus HIV.
Entenda porque uma avaliação multidimensional é importante para alcançar um envelhecimento bem sucedido.
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Muito além de cárie e doença periodontal!

A odontologia vai muito além da cárie e doença periodontal! A boca e a saúde bucal são estratégicas para avaliar indicadores de problemas sistêmicos. O exercício da prática clínica pode de forma colaborativa e proativa aprofundar o rastreio diagnóstico e estabelecer melhores estratégias de tratamento multidisciplinar tanto para medidas preventivas e detecção precoce, quanto para tratamento de doenças crônicas. Da mesma forma, em outra direção, doença periodontal, cárie e a ruína funcional da perda dos dentes leva a uma incapacidade bucal, especialmente em idosos, que é fator predisponente ou exacerbador de problemas sistêmicos como déficit nutricional, obesidade e, num segundo plano, da perda da autoestima e autoimagem que levam ao isolamento social e agravos emocionais.

Conhecidos os efeitos, cabe aos profissionais que trabalham com pacientes com problemas sistêmicos, especialmente os idosos, ampliar a colaboração interdisciplinar e promover um adequado rastreio dos distúrbios e problemas que afetam a qualidade da saúde do indivíduo. O que se postula atualmente é aprofundar os conhecimentos deste eixo inflamatório bidirecional crônico e não procrastinar tratamentos e ações multidisciplinares para promover a saúde e bem-estar a todos envolvidos.

Fontes:

Ewers, e cols, 2008
Ribeiro, e cols 2012
Fonseca, e cols 2015
Saccuci, e cols 2018
Konkel e cols 2018
Aarabi e cols 2018
Steffens, e cols 2022
IBGE

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Este artigo foi redigido por

Gerson Barth
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Sou Gerson Luis Barth, fundador da Human Care Brasil, Cirurgião Dentista especializado em Gerontologia, pai apaixonado do Frederico e da Antonella e da mamãe e esposa Sheila.

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