Uma mão segurando a outra
A Human Care Brasil tem serviços criados especialmente para cuidar de você e quem você mais ama.
Blog

Saúde Bucal e Longevidade: Odontologia na Terceira Idade

Publicado em 27 de outubro de 2022

A longevidade traz consigo uma profunda alteração da fisiologia do organismo e importantes modificações dos problemas de saúde da pessoa idosa. No Brasil, segundo o IBGE, com os seus mais de 32 milhões de idosos, o envelhecimento populacional tem patrocinado uma grande mudança epidemiológica de inversão da pirâmide etária, o que significa dizer que até 2050 nossa população será majoritariamente de pessoas acima dos 60 anos, com estimativa de 90 milhões de longevos.

O que é natural acontecer na jornada do envelhecimento?

No corpo em geral, o relógio cronológico do envelhecimento age diretamente em marcadores e indicadores de moléculas e células que expressam a senescência (envelhecimento biológico natural) dos órgãos, resultando no natural declínio funcional e no aumento da fragilidade do corpo como um todo.

Em relação ao envelhecimento das estruturas da boca isso se reflete na diminuição do sistema de defesa imunológico (imunosenescência), na redução do fluxo salivar gerando xerostomia (boca seca), na diminuição da vascularização das mucosas e gengivas ocasionando dificuldade no uso de próteses, alterações do osso alveolar, dores articulares, recessões gengivais, erosão ou abrasão radicular provocadas pela alteração do pH bucal, no desgaste progressivo da estrutura dentária, assim como, a flacidez dos tecidos da face facilitando o surgimento de rugas de expressão.

O que pode ser considerado como envelhecimento patológico?

O progresso do envelhecimento ao longo do tempo foi patrocinado pelos avanços da ciência e do modus vivendi da sociedade. As injúrias sofridas pelo nosso corpo mudaram das doenças agudas e infectocontagiosas, comuns até a metade do século passado, para doenças do tipo crônico-degenerativas não transmissíveis, que têm como característica o avanço degenerativo e progressivo da doença, com adaptações do corpo frente às agressões e, do ponto de vista das ciências médicas, com o prolongamento da vida promovido pelo “adormecimento” dos agravos através de medicamentos, tratamentos mais modernos e mudanças de hábitos de vida ligados à alimentação e à atividade física.

Em relação ao envelhecimento patológico bucal a população de longevos apresenta, especialmente na realidade brasileira, uma condição de saúde bucal precária, marcada por problemas causados pelo edentulismo (perda dos dentes) e pela alta prevalência de doenças periodontais, recessões e retrações gengivais, cáries radiculares, desgastes dentais, alterações oclusais, dores e desarranjos temporomandibulares, hipossalivação decorrente do uso contínuo de medicamentos, e lesões de tecidos moles, que ampliam desordens na boca e face como a mastigação e absorção de nutrientes, a deglutição, a degustação, a fala e a diminuição da autoestima e autoconfiança que recrudescem problemas como síndrome da imobilidade progressiva, isolamento e perdas psicossociais.

Alguns números que exemplificam o quadro da saúde bucal em longevos no Brasil:

  1. estima-se que a prevalência de periodontite no Brasil chegue a 50% da população, e que ela represente a 6ª doença mais prevalente no mundo, afetando aproximadamente 11,2% da população mundial;
  2. A prevalência de cárie radicular é de 16,7% nos adultos e 13,6% nos idosos;
  3. Estima-se que o número de edentados (sem dentes) seja de aproximadamente 11% da população brasileira;
  4. Atualmente, 41,5% das pessoas acima de 60 anos perderam todos os dentes.
  5. No Brasil, 39 milhões de pessoas são usuárias de próteses dentárias (totais ou parciais);
  6. Em 2040 projeta-se que 85% dos usuários de próteses serão idosos acima dos 60 anos.

O que podemos fazer e como ajudar?

Para fazer frente às problemáticas cada vez maiores envolvendo o envelhecimento da sociedade, sociedade e governo têm buscado avançar em estudos e políticas que sejam capazes de apoiar e atender as demandas desta população. Em particular, as especialidades de saúde como Geriatria médica e Odontogeriatria têm ampliado os conhecimentos específicos a fim de contemplar de forma integral o complexo universo da atenção multidimensional do idoso.

Leia mais sobre a avaliação multidimensional
Entenda porque uma avaliação multidimensional é importante para alcançar um envelhecimento bem sucedido.
Leia mais

E qual a importância de especialistas em geriatria?

Em geral, o avanço da idade é o resultado do somatório de perdas funcionais e de agravos de doenças crônicas como diabetes, problemas cardiovasculares, osteoporose, doenças autoimunes, câncer e doenças degenerativas que são vividos e experimentados pelo indivíduo sênior ao longo da vida. Os especialistas em Geriatria e Odontogeriatria são treinados para identificar e compreender estes eventos e a partir deles estabelecer diretrizes (estratégias) de tratamento que sejam capazes de promover a manutenção das capacidades funcionais e de “adormecer” (minimizar) os problemas ocasionados pelas doenças crônicas, compreendendo que o contexto da velhice é múltiplo e complexo – são muitos os tipos de velhices – e que a dinâmica do envelhecimento está totalmente conectada com os aspectos biopsicossociais vividos pelo idoso em família e em comunidade.

Culturalmente, no Brasil, o grande marco cultural para a velhice é a aposentadoria. Enquanto alguns idosos incorporam um sentimento de vazio existencial e finitude de propósitos que levam a um quadro de depreciação e declínio acelerado da saúde física, psíquica e emocional, outros, os “novos velhos” – geroadolescentes - estão cada vez mais conectados à informação, e em razão disso, encontram-se cada vez mais preocupados com a saúde e manutenção do bem-estar. E é por isso que a Geriatria e Odontogeriatria estão sendo cada vez mais provocadas para contribuir com um rol de técnicas para apoiar e orientar cuidados com o objetivo de um envelhecimento ativo e saudável.

Casal de idosos caminhando juntos no parque
A busca por um envelhecimento ativo e a importância de estar bem resolvido com a própria vida.
Leia mais

Para ajudar, preparamos algumas dicas sobre o que precisamos observar quando procuramos por estes profissionais:

  1. Pedir indicações e referências (o famoso “boca a boca” funciona e é importante);
  2. Você pode pesquisar profissionais em sites de busca e, a partir disso, localizar seus sites ou landing pages;
  3. Visite as redes sociais, assim você conhecerá o perfil do profissional e sua interação com seus clientes;
  4. Procure conhecer a estrutura do consultório – acessibilidade, ambiente, equipamentos, equipe de trabalho. A infraestrutura do consultório é indispensável e não se trata só de um espaço físico ou materiais utilizados na prática clínica. Falamos de aspectos como: sala de recepção ampla e confortável; atendimento humanizado; respeito à mobilidade no acesso de bengalas, andadores e cadeiras de roda; insumos e produtos de alta qualidade; tecnologia e equipamentos que proporcionem conforto, segurança e agilidade; formas de pagamento acessíveis; e quando necessário: a opção por tratamento domiciliar.
  5. Procure entender técnicas e materiais empregados – perceba quanto o profissional está interessado em transmitir informações essenciais para apoiar você no consentimento do tratamento;
  6. Avalie profissionais atualizados e que usem recursos de diagnóstico e tratamento modernos e tecnológicos proporcionando um tratamento mais veloz, efetivo e de execução mais simplificada.
  7. Fator empatia – é fundamental perceber o quanto o profissional respeita a questão emocional do paciente e o contexto familiar em que ele está inserido. O processo de escuta e de coleta de dados é peça chave para o discernimento do que é urgente e, posteriormente, para a adesão do paciente e da família a proposta de tratamento ou de manutenção da saúde.
  8. Fator curiosidade - o profissional que atende geriatria é um eterno inquieto na busca de compreender os mecanismos e as interações das doenças (e de seus medicamentos) que acometem seu paciente e, por isso, é comum o compartilhamento de dúvidas e informações com outros profissionais de saúde.

Quem são e onde atuam os profissionais de Odontogeriatria?

Muitos profissionais dentistas de diferentes especialidades já atuam na atenção de pacientes idosos. Ainda é muito pequeno o número de especialistas em Odontologia Geriátrica no Brasil. No entanto, nos últimos anos, a busca pela formação e atualização nesta área específica tem aumentado significativamente, e por isso, já se pode encontrar a atuação da Odontogeriatria em: consultórios ou clínicas particulares, em tratamentos domiciliares do tipo “home care”, em atendimentos institucionais (residenciais, ILPIs – Instituição de Longa Permanência para Idosos), em hospitais e, com menor alcance, no serviço público.

Importância do planejamento preventivo e da Odontologia na saúde bucal da terceira idade

Alcançar a longevidade com uma boa saúde bucal pode ser um verdadeiro desafio, especialmente porque muitas pessoas não planejaram ou não tiveram os cuidados para essa fase da vida. Essa falta de estratégia para um envelhecimento saudável tem origem no histórico erro de avaliação sobre a prevenção, tanto na visão dos usuários, quanto de profissionais, e na assistência pública e privada.

Os impactos de negligenciar a saúde bucal na medida em que se envelhece podem ser considerados graves. Por exemplo: embora considerado por muitos como “algo natural do envelhecimento”, a perda de dentes não é biologicamente normal. No entanto, vemos índices altíssimos de edentulismo no Brasil. Somado a essa tragédia funcional, para os indivíduos que ainda apresentam dentes (mesmo que parcialmente), também são grandes os números de doença periodontal, recessões gengivais e cáries radiculares.

Como o corpo humano é uma máquina extremamente complexa, interdependente e adaptativa, é natural que as doenças e problemas bucais tenham muitas adaptações do corpo ao longo das fases da vida. Exemplo disso, é que o avanço das complicações mais graves acontece de forma silenciosa e sorrateira, e como numa “virada de chave” se percebe que, por conta do somatório de problemas ao longo do tempo, aconteçam diversas disfunções que interferem na mastigação, deglutição, dicção e fala, e por fim, com a dimensão estética e social do sorriso que afeta a saúde biopsicossocial da pessoa idosa, levando a quadros perversos de isolamento, depressão e perda da qualidade de vida.

A imagem do sorriso saudável é um trunfo social!! Aceitação social, autoestima e autoconfiança.

A revolução já está acontecendo.

Os grisalhos estão promovendo uma verdadeira revolução para uma vida com mais oportunidades e qualidade de vida. Em relação ao planejamento e cuidados com a saúde bucal a revolução não é diferente. A manutenção do sorriso e funções bucais são conquistas sociais marcantes que os idosos querem manter ou reabilitar para assegurar não só a beleza do sorriso e o convívio social, mas, principalmente a capacidade funcional de uma mastigação, dicção e deglutição adequadas.

Pensando nisso, enumeramos algumas dicas importantes para uma a saúde bucal que leve a uma longevidade mais tranquila:

1 - Consultas com o dentista

Fundamental manter visitas periódicas ao dentista, especialmente profissionais que tenham um trabalho voltado a prevenção e com planejamentos que preservem função e estética. O profissional deve ouvir e compreender o contexto individual de cada paciente na busca de uma longevidade ativa e saudável.

2 - Higiene bucal adequada

  • Seguramente a higiene bucal é o grande recurso que temos para manter de forma econômica e efetiva a qualidade dos dentes, gengivas e mucosas. Em relação a escovação, recomenda-se escovar os dentes após todas as refeições, observando um tempo de intervalo de 20 a 30 minutos. Tempo necessário para reequilibrar o pH bucal que foi alterado pelos alimentos e bebidas que foram ingeridos. As escovas recomendadas são as macias ou extra macias, com “cabeças” não muito grandes para que não machuquem as gengivas. O objetivo destes cuidados é para que a higienização massageie dentes e gengiva, sem que os movimentos causem agressões como desgastes dos dentes, macerações ou recessões nas gengivas.
  • O uso do fio dental é preconizado pelo menos uma vez ao dia para auxiliar na remoção da placa em regiões onde a escovação não é eficiente.
  • O uso de enxaguantes bucais também podem contribuir para o saneamento bucal especialmente de pacientes que tenham dificuldade motora em realizar as tarefas de limpeza ou em pós-operatórios. No entanto, é preciso ressaltar que são coadjuvantes, não substituindo outras recomendações. Quando da aquisição destes produtos, dê preferência para os produtos que não contenham álcool.
  • E por falar em eficiência, em casos específicos como os de retrações gengivais, próteses fixas, reabilitações com implantes, o uso de acessórios como escovas interdentais, passa fio, escovas unitufo, raspador de língua, e outros como: escovas e irrigadores elétricos podem ser úteis na complementação da higiene da boca.
Leia mais sobre os desafios de um envelhecimento saudável.
O desafio do Envelhecimento Saúdável é o tema principal de um artigo que publicamos por aqui há alguns meses. Descubra como buscar este objetivo.
Leia mais

3 - Cuidado extra com a higienização das próteses

No Brasil é bastante comum que pessoas mais velhas usem próteses móveis parciais, geralmente com grampos metálicos, e totais, também conhecidas popularmente como “dentaduras ou chapas”. Nestes casos além de uma boa higienização nos dentes remanescentes ou na mucosa bucal, tem de se observar uma higiene rigorosa nas próteses. As próteses acumulam resíduos alimentares e formam uma placa sobre a superfície interna que contribui para a proliferação de fungos e bactérias, como também são geradoras de mal hálito.

Durante a rotina do dia a dia, além de enxaguar a boca e a prótese com frequência, sempre que possível remover a prótese para limpar os tecidos da boca, preferencialmente com escovas macias ou gazes umedecidas.

Para a limpeza da prótese organize um local adequado para evitar acidentes e disponha de tempo!! A correta higienização pode ser feita com escovas apropriadas usando sabonete ou detergente neutro evitando pastas abrasivas que podem danificar o acrílico. Também comum, pode-se mergulhar a prótese num recipiente com água fria ou morna com tabletes ou agentes químicos profiláticos para melhorar a limpeza.

Aproveite as visitas regulares ao dentista. A consulta de manutenção também pode ser utilizada para este fim, inclusive com o encaminhamento para laboratórios protéticos com o objetivo de um refinamento no acrílico da prótese.

4 - Saúde Bucal e os cuidados com a dieta

No Brasil a maioria da população idosa envelhece mal. A obesidade, hipertensão arterial e diabetes (entre as mais prevalentes) são problemas crônicos de saúde que interferem diretamente na qualidade de vida do idoso. Os reflexos dessas injúrias que se espalham pelo corpo são focos de inflamações crônicas, que dentro da boca se refletem no aumento do sangramento das gengivas, na diminuição do fluxo salivar e na depressão do sistema imunológico. Ainda que o clichê repetitivo dos dentistas seja para cuidar com os açúcares e o surgimento de cáries, especialmente as radiculares, zelar por uma dieta rica em frutas, verduras e fibras auxilia na manutenção de uma boca e corpo sadios.

5 - Poli medicamentos – Procure estar sempre hidratado

É comum com o avanço da idade o uso contínuo de medicamentos para o tratamento de doenças crônicas. A quantidade e o tempo de uso repercutem diretamente na boca, causando principalmente a hipossalivação e a diminuição da defesa do sistema imunológico. Tenha cuidado com a hidratação. É essencial que o idoso tome bastante líquido ao longo do dia, de forma continuada e em pequenas frações, para evitar problemas de cicatrização de lesões, exacerbação de lesões nas gengivas ou desadaptações nas próteses devido o ressecamento da mucosa. Em casos mais severos, o uso de saliva artificial pode ser considerado uma opção, especialmente para facilitar na deglutição dos alimentos.

6 - Atenção com reflexos de outras doenças crônicas na saúde bucal

Além dos medicamentos, o número de doenças crônicas coexistindo no dia a dia do idoso impacta nos mecanismos de defesa e ação das doenças mais comuns na boca: a gengivite e a periodontite. A tragédia aumenta com eventos como mobilidades, deslocamentos e perdas dentárias. Se considerarmos que a partir dos 60 anos e a cada 5 anos o idoso será portador de uma nova doença crônica, podemos prever que, em média, um octogenário conviverá com 5 a 6 distúrbios ou doenças crônicas. Em razão disso, fica evidente que a manutenção e planejamento de uma boa saúde bucal são fundamentais para evitar desastres funcionais e sociais ainda maiores.

7 - Planeje seu sorriso e pense na função dos dentes lá na frente!

Lembre-se que com o passar do tempo a saúde vai naturalmente declinando. Vemos hoje em dia, muitos tipos de velhices. É cada vez mais comum percebermos oitentões em plena forma, enquanto, por outro lado, sessentões lamentando a falta de qualidade de vida e se afundando no isolamento social. Então, faça para si mesmo as perguntas: Qual o seu tipo de velhice? Como você gostaria de chegar lá? A resposta está no planejamento mais antecipado possível de decisões que levem a um envelhecimento ativo e saudável. E no caso da saúde bucal, com todo o avanço da ciência e tecnologia, o melhor tempo para “a escolha” por uma repaginada na saúde bucal ou uma reforma na “mobília” é enquanto se goza de boas condições de saúde! Use o tempo e suas decisões a seu favor. Melhor ainda, você terá tempo de “usar socialmente” os resultados de um sorriso bonito, saudável e funcional ao lado de quem você mais gosta e quer estar: sua família e amigos!

Não deixe para amanhã o que se pode fazer hoje!! Viva o presente!! A vida é um presente!!

Referências:

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Who – Organização Mundial da Saúde;
Marques, e cols, 2013
Brunetti-Montenegro e Marchini, 2013
Oliveira M, 2018
Steffens, e cols, 2022

Encontre mais textos e artigos sobre
Compartilhe: 

Este artigo foi redigido por

Gerson Barth
.

Sou Gerson Luis Barth, fundador da Human Care Brasil, Cirurgião Dentista especializado em Gerontologia, pai apaixonado do Frederico e da Antonella e da mamãe e esposa Sheila.

Veja mais sobre este assunto

Informações e dicas direto no seu e-mail

Cadastre-se abaixo e receba nossas atualizações sobre saúde e bem estar para você e a sua família, com conteúdo criado por especialistas.
2025 - Human Care Brasil, CNPJ 35.847.944/0001-83
 - 
Política de Privacidade
Logo Thoughtbox