Uma mão segurando a outra
A Human Care Brasil tem serviços criados especialmente para cuidar de você e quem você mais ama.
Blog

Envelhecimento bem-sucedido: a importância da avaliação multidimensional

Publicado em 6 de julho de 2022

O aumento da longevidade tem provocado alterações profundas na demografia em todo mundo. Segundo as projeções epidemiológicas em 2050, no Brasil, uma em cada cinco pessoas terá 60 anos ou mais, e, no mundo, é esperado que o número total de pessoas 60+ alcance 2.1 bilhões, ou, em outras palavras, um terço da população mundial será de idosos.

Com o avanço da idade, aumentam as chances de os idosos vivenciarem situações que afetam a sua saúde e qualidade de vida. Os efeitos biológicos mais esperados são aqueles naturais do processo de senescência como perda auditiva, diminuição da visão, e redução de massa muscular. Por outro lado, o envelhecimento também é marcado por alterações biológicas causadas por patologias (senilidade), especialmente as doenças crônicas como o diabetes, a hipertensão, o Alzheimer, por exemplo.

Ainda que as perdas sejam considerados comuns e esperadas na jornada do envelhecimento, não deve ser considerado “natural” o “adoecimento” e a “dependência funcional” que assolam a realidade de muitas velhices e que antecipam e elevam a vulnerabilidade e fragilidade das pessoas idosas.

O outro lado da mudança demográfica está associado a modificação nas estruturas familiares, especialmente aqui no Brasil. As famílias estão cada vez menores (baixa taxa de natalidade) e, paralelamente, o crescimento do protagonismo da mulher no mercado de trabalho, fizeram com que surgisse um novo padrão familiar modificando a responsabilidade e o status de cuidado dos mais velhos na família.  Para aquelas famílias que necessitam apoiar o cuidado de algum familiar em suas atividades diárias ou que precisem de companhia, supervisão e auxílio são necessárias demandas financeiras, assistenciais e logísticas que nem sempre conseguem suprir.

Um envelhecimento “adoecido” ou “fragilizado” que leve a perda da independência do idoso é ainda mais caro para todos. Certamente quem mais tem a perder com a velhice malsucedida é o próprio idoso, já que se vê limitado em decidir ou executar tarefas comuns e necessárias a qualquer indivíduo adulto. Para a família e para o estado o cuidado domiciliar, ambulatorial, emergencial e de longa permanência pode tomar proporções e complexidades que são desafiadoras, para não dizer desumanas, na medida em que as fragilidades vão aumentando.

Um exemplo disso: manter estimulados e ativos os idosos frágeis pode não evitar que evoluam para a dependência funcional, mas certamente amenizará ou retardará o processo da fragilidade e suas multicomplexidades que têm impacto devastador na vida do idoso, de quem cuida, e que geram custos altíssimos para a família e para a sociedade.

Em 2020 foi publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) um relatório sobre o panorama e o ideário do Envelhecimento Saudável para a década de 2021 a 2030. Nele, a OMS reafirma que a trajetória do envelhecimento é heterogênea, que as velhices são diferentes umas das outras, e que por conta disso cada velhice, saudável ou não, terá suas particularidades de acordo com sua história de vida e com as oportunidades que teve ao longo da vida.

O relatório reafirma que a saúde biopsicossocial deve ser preservada no natural declínio funcional e de perdas do envelhecimento, e que, associado ao perfil multifacetado das velhices, três grandes fatores podem interferir e ser decisivos para um envelhecimento bem-sucedido:

  • Capacidade intrínseca, que está ligada a habilidade de resiliência e de adaptação aos desafios da vida adulta. São recursos do indivíduo, de plasticidade emocional, ligados ao “como” a pessoa enfrenta seus problemas;
  • Funcionalidade, que está ligada a capacidade de equilíbrio postural, mobilidade e cognição para o desempenho das atividades de vida diária;
  • Ambientais, que fazem a conexão entre o ambiente em que se vive (sua casa) e o apoio familiar e contexto social.

A partir disso podemos entender que o envelhecimento não é do idoso em si, mas sim do envelhecimento de todas as pessoas. Trata-se de compreender que o idoso é um ativo da sociedade, e que para estar incluído precisa de oportunidades e estímulos, ser ouvido e respeitado. Como também, o envelhecimento é da família e de todas suas prioridades e conflitos intergeracionais.

O envelhecer pertence à sociedade, e, a partir dela, os seus governos precisam prover dignidade, cidadania e direitos fundamentais.

Dizemos que “cuidar” do idoso ou da velhice vai além da saúde. Não se pode negligenciar que a história de vida das pessoas deixa marcas e cicatrizes, e que as suas personalidades de hoje (o que elas são hoje) são reflexos do que os meios e experiências passadas proporcionaram. E é por isso que o olhar atento do contexto atual vivido pelo idoso vai chamando a atenção de que uma visão fragmentada não resolve os problemas. É como secar gelo, ou enxergar apenas a ponta do iceberg.

Daí que o acolhimento e o apoio com uma escuta ativa e empática ajudam no processo de pertencimento, de inclusão e de manutenção da participação social. Isso faz parte de um contexto de saúde emocional que minimiza ou elimina quadros de isolamento, apatia, tristeza e até de sofrimento, sintomas comuns da depressão e de outras doenças mentais frequentes em pessoas idosas.

Podemos dizer que: “nossas experiências são únicas e nossas necessidades são e serão singulares!!”

Como alcançar um envelhecimento bem-sucedido?

É senso comum que a intervenção precoce e preventiva são o melhor caminho na direção de um envelhecimento bem-sucedido e saudável. No entanto, esse é um caminho que começa muito cedo. O envelhecimento não começa aos 60 anos. Corrigir hábitos que são nocivos, observar rotinas, especialmente em relação a alimentação, a prática de exercícios físicos, o respeito ao sono, o convívio com amigos e família, e cuidar da mente e corpo são tarefas diárias que temos desde que nos tornamos responsáveis por nossas escolhas. 

Atente-se: A independência embora seja a grande conquista ao iniciarmos a vida adulta e o grande trunfo que carregamos para a velhice, ela passa a ter um peso enorme e devastador na autoestima e autoconfiança na medida em que vamos declinando e dependendo de outros em razão de perdas funcionais do envelhecimento.

Neste sentido, quando antecipamos medidas ou decisões que eliminem ou diminuam o tempo de exposição a fatores de risco como sal em excesso e cigarro, por exemplo, reduzimos os danos e os desfechos indesejáveis, mas previsíveis, como a predisposição a doenças crônicas, perdas de mobilidade e quedas. Ah!! Por consequência, isso retardará ou diminuirá a ajuda de terceiros para nos apoiar.

Árvore isolada em plantação de lavanda para ilustrar o conceito de Aging in Place
Aging in place, um conceito que ganha cada vez mais espaço e relevância na busca do envelhecimento saudável e bem sucedido.
Leia mais

Como planejar o envelhecimento? Por onde começar?

A transição recente demográfica e o consequente envelhecimento da população também mudaram o perfil e a prevalência das doenças na população. Se no passado tratávamos maciçamente doenças de caráter infecto contagiosas, hoje dado o avanço das ciências médicas e do crescente número de mais velhos, o que mais atinge a população são doenças crônicas e degenerativas, não raro múltiplas num mesmo indivíduo, com sinais e sintomas que se interrelacionam, que são confusos, e que exigem um amplo e adequado rastreio diagnóstico.

A avaliação multidimensional do idoso é o ponto de partida do raciocínio de uma medicina baseada em evidências para compreender de forma mais ampla a saúde biopsicossocial do idoso.

Esse modelo de atenção à saúde tem como pilar central a avaliação das capacidades ou habilidades funcionais, que são medidas através da combinação das habilidades intrínsecas do indivíduo, que tratam da resiliência e adaptação do corpo e da mente nos declínios funcionais (ligados aos domínios do humor, cognição, locomoção, sensorial e vitalidade), com os fatores extrínsecos, que modulam e influenciam o dia a dia das pessoas (ligados às experiências de vida e contextos ambientais da casa e da comunidade).

A análise deste conjunto de habilidades revela a funcionalidade do indivíduo idoso para exercer suas atividades de vida do dia a dia de forma independente e autônoma. Ou seja, em relação à independência, o exame destas medidas avalia o quanto a “falta” ou a “perda” de mobilidade (braços e pernas) e de comunicação (visão e audição) afetam a execução das tarefas e afazeres do cotidiano, e, por outro lado, em relação à autonomia, o quanto o “declínio” ou “alteração” do humor/comportamento (isolamento e depressão) e da cognição (habilidades do pensamento) limitam a capacidade do indivíduo de tomar as suas próprias decisões seguindo suas convicções.

Por isso, quando pensarmos na saúde em idosos, a partir de agora, falaremos em independência ou capacidade funcional, uma vez que é ela quem irá prover, preservar e prolongar as necessidades biopsicossociais do indivíduo idoso.

Para alcançar esse olhar tão amplo, o rastreio multidimensional contempla a avaliação de áreas funcionais como: visão, audição, incontinências, braços, pernas, nutrição, estado mental e depressão, que interferem diretamente nas atividades de vida diárias, com repercussões no ambiente da casa (necessidade de adaptações) e demandas de apoio social da família e comunidade envolvida.

A questão não se limita a medir saúde ou doença. Mas sim o como, onde e com quem se vive um envelhecimento bem-sucedido mesmo com uma doença crônica ou com declínio funcional!  Sempre há espaço para promover o autocuidado e estimular a manutenção das habilidades funcionais de forma mais plena possível, preservando a autonomia e independência.

Buscar um envelhecimento bem-sucedido é um desafio que vale a pena!

Ao mirarmos o horizonte percebemos que não é uma tarefa fácil. É um caminho de muitas mãos, da coletividade. É ter consciência, saber lidar e ter resiliência, atributos indispensáveis na tarefa de mediar decisões, de perceber possibilidades, de não julgar o certo ou o errado, mas conscientemente propor alternativas e fazer a diferença para si mesmo e para o outro. São escolhas que permitem dizer que a estratégia e a prevenção vêm antes do problema e caminham lado a lado apontando novas oportunidades e objetivos de vida quando algum declínio acontecer.

Com o aumento da expectativa de vida é chegado o momento de revisitarmos alguns conceitos onde a figura do mais velho e de sua história é merecedora de respeito, sabedoria e princípios, e repensarmos a velhice devolvendo para o idoso a oportunidade de permanecer sendo protagonista de sua vida, e não de suas doenças, em tudo aquilo que é significativo para ele.

Fontes:

1. Tratado de Geriatria. Freitas, E.V.F; Py, L. – 5ª ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2022.

2. A Arte da (Des)Prescrição no Idoso: a dualidade terapêutica, Moraes, E.N – Belo Horizonte: Folium, 2018.

3. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

4. WHO – World Health Organization, 2020.

Encontre mais textos e artigos sobre Tags:  |  |  |  |  |
Compartilhe: 

Este artigo foi redigido por

Gerson Barth
.

Sou Gerson Luis Barth, fundador da Human Care Brasil, Cirurgião Dentista especializado em Gerontologia, pai apaixonado do Frederico e da Antonella e da mamãe e esposa Sheila.

Veja mais sobre este assunto

Informações e dicas direto no seu e-mail

Cadastre-se abaixo e receba nossas atualizações sobre saúde e bem estar para você e a sua família, com conteúdo criado por especialistas.
2024 - Human Care Brasil, CNPJ 35.847.944/0001-83
 - 
Política de Privacidade
Logo Thoughtbox